Redes sociais mostram força entre os senadores na estreia da legislatura

A temperatura só aumentava no plenário do Senado quando o senador Jorge Kajuru (PSB-GO) pediu a palavra, prometendo ser rápido.

“Eu voto de acordo com o meu eleitor e com o meu seguidor. Fico triste porque eu tive que mudar a enquete três vezes em função de desistências de candidatos. É duro”, protestou o parlamentar novato.

Novo é também o vocabulário que apareceu na estreia da atual legislatura. A votação para escolher o presidente da Casa, vencida depois de muito rebuliço por Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi ilustrativa do lugar que as redes sociais ocuparão nos mandatos.

Além da divulgação que Kajuru fez da enquete com seguidores em seu Facebook (o apresentador disse que agiria conforme o resultado que desse lá), abundaram menções à internet nos discursos entre sexta-feira (1º) e sábado (2).

Em meio à discussão sobre voto secreto, com parte dos senadores revelando em público sua escolha, Mara Gabrilli (PSDB-SP) foi ao microfone confirmar que, independentemente de abrir sua decisão ao plenário, já tinha escancarado a opção na internet.

“Muito antes de sair o resultado que não houve, eu já tinha declarado nas minhas redes sociais”, falou ela, apoiadora de Davi.

Observação semelhante saiu da boca de Vanderlan Cardoso (PP-GO), cujo partido decidiu em novembro pelo voto em Esperidião Amin (PP-SC). “Naquele mesmo mês, coloquei nas minhas redes sociais o meu candidato e já também manifestando apoio ao voto aberto”, frisou.

Alusões a redes sociais não são uma completa novidade no Congresso, mas tendem a ser mais comuns a partir das novas legislaturas que tomaram posse. No caso dos senadores, a estreia foi uma amostra do espaço que a comunicação direta com o eleitor deve ganhar de agora em diante. 

Muitos dos novos parlamentares se tornaram conhecidos graças à internet e se elegeram de carona na popularidade que alcançaram com seus vídeos e postagens.

Nessa categoria estão, além de Kajuru (que se gaba de possuir “8,6 milhões de seguidores em 30 redes sociais”, nas suas palavras), nomes como Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), Marcos do Val (PPS-ES), Capitão Styvenson (Rede-RN) e Major Olímpio (PSL-SP).

Na Câmara, onde a presença de crias do ambiente virtual é ainda mais significativa, deve ocorrer algo parecido, com políticos adotando um comportamento sensível em relação às redes, tanto como ferramenta para nortear seus mandatos quanto para prestar contas aos eleitores.

“Quero parabenizar a população brasileira por estar acompanhando essa sessão e estar fazendo uma grande campanha pelo voto aberto no Brasil”, disse Eduardo Girão (Pros-CE) na sexta, enquanto a eleição no Senado era um dos principais assuntos do Twitter.

Àquela altura, Renan Calheiros (MDB-AL) ainda figurava como o favorito e era alvo de críticas. A ofensiva contra ele ganhou força neste sábado, quando hashtags como #RenanCalheirosNao e #ForaRenan chegaram à lista de tópicos mais comentados.

Em diferentes momentos ao longo dos dois dias de sessão, ataques ao Senado como instituição proliferaram nas redes, especialmente após a confusão envolvendo Kátia Abreu (PDT-TO), aliada de Renan, que subiu à mesa e levou a pasta com a ordem do dia.

“Nós estamos, diante da opinião pública, totalmente desacreditados”, lamentou Simone Tebet (MDB-MS) no início dos trabalhos neste sábado. “Nós estamos sendo comentário das redes sociais. E, sim, nós temos de dar valor a elas, porque quem ali está tuitando, quem ali está dizendo, é a população brasileira.”

À noite, com o campeão já anunciado, um de seus principais aliados, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), relacionou a vitória à mobilização virtual. “O resultado daqui não foi um resultado proclamado somente pela vontade dos membros desta Casa. Foi um resultado que veio de fora aqui para dentro, que veio das ruas, das urnas e das redes sociais.”

Kajuru, dirigindo-se ao já eleito presidente do Senado, tinha razões práticas para dizer que as redes interferiram na votação. Embora apoiasse Reguffe (sem partido-DF), foi de Davi na hora H por influência dos que o seguem.

“O senhor acabou convencendo o meu público, quase 9 milhões de seguidores, e o senhor obteve 77% dos votos. Eu obedeci aos meus eleitores, aos meus seguidores.”

 

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