Corpo de Ricardo Boechat é velado no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo

O corpo do jornalista Ricardo Boechat, 66, morto após a queda de um helicóptero em São Paulo nesta segunda-feira (11), está sendo velado no MIS (Museu da Imagem e do Som), na zona sul da capital paulista. 

O velório, aberto ao público, começou por volta da meia-noite desta terça (12). O caixão chegou ao museu às 23h20 e foi carregado até o auditório com a ajuda de familiares. A cerimônia vai até as 14h.

Sob forte comoção, centenas de pessoas, entre políticos, jornalistas, artistas e fãs, prestaram uma última homenagem a Ricardo Boechat. Na chegada do corpo, jornalistas e fãs, que aguardavam a cerimônia, receberam o caixão com uma salva de palmas.

Um dos primeiros a chegar, o presidente do Grupo Bandeirantes, João Carlos Saad, disse que Boechat deixa um grande aprendizado para o jornalismo.

“Quando a gente acabar de apurar este caso, vamos encontrar um fio condutor entre essas tragédias que vêm acontecendo. São sempre coisas que não estão adequadas. Desde uma barragem que não está adequada, um dormitório e de possivelmente um helicóptero que não estava adequado”, diz Saad.

Esteve também presente no velório o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Ao lamentar a morte do âncora do Jornal da Band, Doria disse que Boechat foi um grande defensor dos princípios da democracia no Brasil.

“Uma perda muito grande para todos os jornalistas que acreditam no valor da liberdade de imprensa e da qualidade da imprensa brasileira”, disse o governador.

O tucano comentou também que foi amigo de Boechat por quase 40 anos e que tinham em comum a paixão pelo futebol -segundo o governador, os dois jogaram bola muitas vezes juntos no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Sobre a personalidade do jornalista, Doria disse que ele era uma figura “fraterna, adorável, amigo dos amigos, solidário e de bons princípios”. “Uma pessoa com o sentimento de justiça muito grande. Simples nos seus gestos e de muita grandeza nas atitudes.”

Acompanhada das duas filhas e de Mercedes, 86, mãe de Boechat, a esposa Veruska Boechat agradeceu as condolências. “Ele foi o ateu que mais praticava o amor ao próximo”, disse a viúva.

O apresentador Otávio Mesquita também esteve no local e contou como era a relação com Boechat na Bandeirantes. “Às vezes ele me ligava e falava: ‘Otávio, eu vi o teu programa ontem, você fez isso, aquilo’. A gente tinha uma relação muito divertida porque o meu lado cômico excessivo tem um pouco a ver com o dele. Eu devo muito a ele.”

Para a apresentadora Ana Paula Padrão, “poucos jornalistas honraram tanto a profissão e levaram tão longe o compromisso de fazer do jornalismo um bem precioso, comum, um bem da sociedade, um bem de todos nós”. Ela destacou que, em tempos de fake news, “precisamos de outro Boechat. A gente precisa de jornalismo levado muito a sério”.

A colega de bancada Sheila Magalhães falou sobre a dificuldade de noticiar a morte de Boechat. “Foi a notícia mais difícil que eu já dei na minha vida, noticiar a morte de um amigo.”

Serginho Groisman o definiu como “o jornalista”. “Ele encontrou no jornalismo uma possibilidade de expressão popular. Tudo o que a gente queria ouvir como opinião, perguntas, ele fazia em nome do povo brasileiro.”

A última entrevista de Boechat na televisão foi para o colega Amaury Jr., que contou que os dois se maquiavam juntos antes de entrarem no ar. Uma de suas últimas conversas foi sobre depressão. “Ele brincava: ‘Vamos colocar rivotril na caixa d’água da cidade, porque todo mundo tem algum nível de depressão.'”

“A gente divagava muito, ele me dava muitos conselhos. Eu sempre o tive como mestre”, disse Amaury, destacando como uma das principais qualidades do jornalista sua obsessão.

Milton Neves brincou com a dualidade do jornalista. “Tenho visto muita foto dele na internet. O cara mais carrancudo de opinião da imprensa brasileira, e em todas as fotos ele está sorrindo.”

Colunista da Folha de S.Paulo e companheiro de rádio de Boechat, José Simão fez um discurso emocionado no auditório onde o corpo do jornalista é velado. “O day after é sempre pior”, resumiu. “Foi uma química instantânea desde o primeiro dia. Eu tinha aquele humor escrachado. Boechat é carioca da gema, um gozador por natureza. É uma dupla que jamais será retomada.”

O jornalista Fernando Mitre também esteve no MIS. Afirmou que há 12 anos começou uma nova fase do jornalismo brasileiro quando Boechat assumiu a ancoragem do Jornal da Band e da rádio BandNews. “Um novo capítulo que estava no auge e que foi interrompido por essa tragédia”, afirmou Mitre.

Falou ainda que Boechat era um jornalista completo -quando apurava uma notícia, quando escrevia, quando editava, quando exibia e, principalmente, quando comentava, segundo Mitre. “Perder um jornalista como ele é uma perda irreparável. Não tem como qualificar.”

Erick Jacquin e Henrique Fogaça também foram ao velório. “Muito triste. Não dá para acreditar ainda. Não caiu a ficha. Hoje fiquei o dia todo abalado”, disse Fogaça.

O administrador Gustavo Batista Camilo Aguilar do Prado, 42, veio de Guarulhos, na Grande São Paulo, para acompanhar o velório. Ele se diz admirador do trabalho do jornalista.

Contou que em novembro de 2014 mandou uma mensagem de texto para Boechat -em um número de celular que o jornalista divulgava para o público- com uma sugestão de pauta e que, minutos depois, recebeu uma ligação inesperada do jornalista, interessado na história.

Desde então, trocou mensagens com o âncora do Jornal da Band. A última foi em agosto de 2018, que Prado exibe com orgulho, ainda salva no celular.

O ACIDENTE

Segundo testemunhas relataram ao Corpo de Bombeiros, a aeronave Bell Jet Ranger, um modelo de 1975, tentou fazer um pouso de emergência em uma alça de acesso do Rodoanel à rodovia Anhanguera, na altura do quilômetro 7, sentido Castelo Branco, próximo a um pedágio -local das vias com menos fluxo de veículos.

Na descida, no entanto, ela se chocou com um caminhão que tinha acabado de sair do pedágio, na faixa do Sem Parar (pedágio expresso). Não se sabe ainda qual o problema que a aeronave apresentou, mas foi a colisão que fez o helicóptero pegar fogo.

O motorista do caminhão foi socorrido e teve ferimentos leves, segundo a Polícia Militar.

De acordo com a Abraphe (Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero), o piloto tinha experiência de quase duas décadas como comandante e “seguiu à risca as doutrinas de segurança até o último momento, na tentativa de preservar a vida da tripulação a bordo do helicóptero”.