Originário de Cururupu, conheça a história do Bumba meu boi costa de mão

Originário do município de Cururupu, no litoral Noroeste do Maranhão, o bumba meu boi sotaque de costa de mão tem raízes do período da escravidão e não tem a mesma fama dos outros sotaques. Ainda assim, é um símbolo cultural que permanece transmitindo sonoridades e apresentações que não se encontram em nenhum outro lugar do mundo.

Como principais características, os bois de costa de mão são reconhecidos pela forma como os brincantes tocam os instrumentos: Literalmente com as costas das mãos, o que por vezes causa até ferimentos.

As vestimentas são trabalhadas com bordados em calças e casacos, além de chapéus em formato de cone com fitas coloridas compridas. Já o som é emitido nos tambores-onça, maracás e pandeiros. 

Os pandeiros, inclusive, tem uma forma peculiar de serem confeccionados e usados. De modo geral, são confeccionados em madeira ou metal e recobertos na extremidade superior com couro de animais ou membrana de nylon. 

Em Cururupu, os pandeiros não possuem soalhas e apresentam uma corda ou correia com a qual o instrumento é pendurado no pescoço do tocador, que o segura com uma das mãos e o percute com as costas da outra mão.

História

Alguns pesquisadores consideram o sotaque de costa de mão como uma variante do sotaque de Zabumba, que é o mais antigo sotaque de bumba meu boi e que também tem suas origens no período da escravidão.

Para seu Eliésio, do Boi Brilho da Sociedade, a origem deste sotaque vem de uma região de Cururupu, onde os escravos eram castigados nas mãos pelos seus senhores. Desse modo, por causa dos ferimentos que ficavam na região da palma das mãos, os negros, para não deixar de festejar o São João, passaram a tocar os pandeiros com as costas das mãos.

Os grupos mais conhecidos do sotaque de costa de mão são: Rama Santa, Brilho da Sociedade, Soledades e Brilho da Areia Branca. Mas segundo o presidente da Central de bumba meu boi de Sotaques da Baixada e Costa de Mão, João Batista Gonçalves, atualmente existem sete grupos desse sotaque que se apresentaram nos últimos anos. Eles estão divididos em quatro cidades: 

  • 3 grupos em Cururupu – Boi da Rama Santa (presidente Valdioclecio ), Boi Brilho de Areia Branca (presidente Florinaldo) e Boi Brilho da Sociedade (presidente Eliezer).
  • 1 grupo em Serrano do Maranhão – Boi Brilho da Soledades
  • 1 grupo em Bacuri – Boi Brilho da Saudade
  • 2 grupos em Tajipuru ( São Luís) – Boi Brilho Sociedade Cururupu de Humbelino ( Presidente Antoniel) e Boi da Vila Conceição de Costa de Mão (Presidenta D. Nizete ).

Nas apresentações, os grupos são divididos em tapuias, tocadores e vaqueiros de cordão e campeadores, de cordão, que costumam carregar um maracá ou uma vara de ferrão. Todos se apresentam em uma grande roda – o que remete aos indígenas, que também influenciaram os grupos de Zabumba. 

O ritmo do toque nos pandeiros é cadenciado entre toadas marcadas pelo uso de expressões relacionadas ao ambiente rural como ‘gado reprodutor, comprar boi e raça de gado’. Para tocar, os grupos frequentemente são vistos usando ataduras nas mãos, afinal, é dolorido usar o dorso das mãos para fazer som.

Falta de apoio e quase extinção

Pela quantidade menor de brincantes e falta de apoio, o sotaque de costa de mão quase chegou à extinção. Em 2017, um levantamento feito pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) constatou que, de um total de 18 grupos identificados, apenas seis ainda estavam em atividade e destes, somente quatro fizeram apresentações públicas naquele ano.

Vários motivos provocaram o sumiço dos grupos de costa de mão. Para o Iphan, os representantes dos bois destacam a falta de recursos materiais, financeiros e humanos; desinteresse dos jovens, desvalorização da brincadeira pela comunidade e até a discriminação dos Bois.

Ainda em 2017, representantes do Iphan, de poderes públicos estaduais e municipais, além de grupos de bumba meu boi formaram uma comissão para evitar o desaparecimento desse sotaque. No final foi formado um documento que previa as seguintes ações:

  • ficinas de transmissão e sabres associados aos bois de costa de mão 
  • Projetos de educação patrimonial em escolas
  • Realização de concursos e festivais de bois de costa de mão
  • Premiação de mestres
  • Encontros de Bois do sotaque na região de origem, com a participação dos grupos dos municípios de Cururupu, Serrano do Maranhão e Bacuri
  • Exposições, pesquisas, registro da memória dos mestres do sotaque de costa de mão,
  • Levantamento de cantadores e artesãos dos Bois de Costa de mão
  • Divulgação em massa dos Bois de costa de mão

Cinco anos depois, o Iphan aponta que, em 2019, foram realizadas oficinas de transmissão de saberes para 60 alunos da escola da rede municipal de ensino de São Luís, Unidade de Ensino Básico Honório Odorico Ferreira, localizada em Tajipuru, onde ficam as sedes dos Bois Sociedade de Cururupu e Unidos da Vila Conceição. 

Também nesse ano foram distribuídos materiais aos Bois citados para confecção de indumentárias, como veludo, miçangas, canutilhos e fitas. Atualmente, o Iphan afirma que está em fase de conclusão o projeto de educação patrimonial ‘O Boi vai à Escola’ que envolve capacitação de professores, oficinas para alunos e produção de material paradidático voltado aos Bois de costa de mão.

Ao contrário do que havia em 2017, em 2022 existe a previsão de que sete grupos de Bois de Costa de mão vão ser apresentar nos arraiais de São Luís. O Boi Unidos da Vila Conceição não sairá em virtude do falecimento de um dos amos e de doença da dona do Boi, porém, o Boi do Bairro Unido, de Serrano do Maranhão, desativado há cerca de 10 anos, está se preparando para retornar aos arraiais.