O papel e a função das rádios comunitárias na comunicação social

Primeiramente, a rádio só é comunitária quando os moradores do local a reconhecem como tal. Do contrário, passa a ter papel político, servindo, muitas vezes, como meio de propaganda política, ou até manipulação. Porém, se trabalhada com a comunidade e para a comunidade, ouvindo os moradores, suas reclamações e requerimentos, a emissora radiofônica acrescenta informação, além de melhorias a rádio torna-se um movimento social, mudando a vida dos moradores, como por exemplo, a rádio Juventud FM, em San José de Guaviare, Colômbia, que retira jovens do narcotráfico em um contexto de guerrilhas através do projeto denominado Juventud por el Guaviare que realiza atividades como eco-passeios, vídeo-fóruns, torneios esportivos e clubes juvenis comunitários.

Como podemos perceber, se bem utilizada, a rádio comunitária tem um papel fundamental na sociedade como um meio de comunicação rápido e eficaz. Vivemos na era do computador e junto com ele o advento da internet trouxe consigo a informação veloz, em tempo real. Muito fascinante essa tecnologia, mas a qualquer imprevisto tecnológico essa velocidade de informações se torna nula, o que não acontece com o rádio por exemplo. Através de uma rádio, podemos chegar aos quatro cantos do mundo sem necessitar estar “conectado” com uma rede social.

O rádio chegou oficialmente ao Brasil em 7 de setembro de 1922. A primeira emissora foi inaugurada com um discurso do então presidente Epitácio Pessoa. E a maneira que o governo encontrou para que alguém ouvisse a transmissão foi comprar os aparelhos e distribuir entre os amigos. O rádio brasileiro surgiu em um ambiente de elite, com transmissão de música erudita e conferências. Nada parecido com a proximidade que uma rádio comunitária consegue despertar.

Com o passar do tempo, começaram a surgir as chamadas rádios livres, emissoras que começavam a operar com um pequeno transmissor, um microfone e muitas ideias. A partir de 62 fazer transmissões de rádio sem autorização virou crime, mas aqui e ali as rádios continuaram em funcionamento. Aos poucos se formou uma ideia do que seria uma rádio comunitária, um veículo que poderia dar voz aos anseios e preocupações de cada lugar. De acordo com professora de comunicação da Faculdade Metodista, Cecília Peruzzo, é a cidadania que dita o ritmo de uma rádio comunitária.

É importante observar a maneira como as rádios comunitárias estão sendo construídas. Ou seja, deve ser um lugar onde a comunidade reconheça na emissora as aspirações do seu cotidiano, pois a emissora a rádio comunitária deve cumprir a finalidade de facilitar a informação e servir de veículo de esclarecimento da opinião pública local sobre os fatos e assuntos da história e interesse de cada segmento social.

“A rádio comunitária tem a função de informar às pessoas o que está ocorrendo em volta de sua casa, no bairro, na comunidade; é o acontecimento da cidade que o pessoal quer saber. É isso que atrai os ouvintes de uma rádio comunitária”.

“São aquelas emissoras que têm um profundo compromisso nas localidades, desenvolvem um trabalho visando o desenvolvimento local, o desenvolvimento da cidadania. Elas não têm fins lucrativos, permitem uma participação muito acentuada da população no meio de comunicação”.

A arte, a cultura popular, o folclore e a educação são ferramentas para expressão de opiniões diversas. A idéia é dar voz a quem não tem acesso aos meios de comunicação, como destaca Cecília Peruzzo.

“Era importante que as rádios comunitárias, muito mais que liberdade de expressão, que elas tivessem uma função de desenvolvimento social. Era essa a principal função das rádios: em vez de repressão, formação. Em vez de despotencializar, potencializar esses recursos”.

Desta forma, a rádio comunitária é a ponta de um iceberg, é uma ponta da expressão de um dos segmentos da população brasileira, de uma parcela significativa do povo brasileiro que é mais oprimido, que não tem acesso a grande mídia.

A regulamentação para as rádios comunitárias estabelece parâmetros rígidos. O alcance está limitado ao raio de um quilômetro. Não pode haver funcionamento em rede nem a veiculação de publicidade. É permitido o apoio cultural de estabelecimentos que estejam dentro do raio de alcance da rádio, mas nesse apoio não pode haver propaganda de produtos. Atualmente, milhares de rádios comunitárias têm licença do Ministério das Comunicações, mas a estimativa é que existam pelo menos 10 mil rádios em operação, sendo que alguns especialistas calculam 15 mil rádios. O número correto de rádios sem licença é um mistério. A certeza é que a maior parte delas não atua realmente como uma rádio comunitária. É grande o número de emissoras que trabalham com objetivos políticos, religiosos e comerciais. A professora de comunicação Cecília Perruzo não arrisca um número, mas opina que nem a metade das rádios de baixa potência em operação incentivam a cidadania como uma rádio comunitária.

Não há dúvida que, mesmo levando em conta o avanço da tecnologia nos meios de comunicação, o papel da rádio comunitária no cotidiano dos moradores de uma comunidade, sem dúvida, faz a diferença. Contudo, essa proximidade deve levar em conta a individualidade dentro da diversidade, expondo as diferenças de gênero, raça, cor e crédulo, fazendo com que as pessoas da comunidade se identifiquem mutuamente. Certamente as rádios comunitárias não devem perder de seu alcance esses objetivos, e o seu importante papel e compromisso dentro da sociedade local.

No contexto de articulação dos movimentos sociais, onde há insubmissão frente ao poder das instituições que formam o cidadão (escola, igreja, estado), a comunicação comunitária faz-se necessária por ser mais eficaz, possibilitando a participação direta, ou seja, os receptores das mensagens tornam-se, simultaneamente emissores, como por exemplo o movimento feminista, que ocasionou a criação de 150 jornais alternativos na década de 1970.

 

 


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