Oriundo de Cururupu, Boi de Costa de Mão resiste ao tempo e a falta de apoio

Na atualidade, o Bumba Boi de Costa de Mão vive o seu momento mais crítico diante do descaso das autoridades e devido falta de incentivo com investimentos efetivos.

O Bumba- boi de Costa de Mão é um dos cinco sotaques da mais importante manifestação cultural, popular, e folclórica do Maranhão: o Bumba Meu Boi. O sotaque Costa de Mão vem do Litoral Ocidental Norte do Estado e só existe no Maranhão e em nenhum outro país é encontrado.

Oriundo do Litoral Norte, notadamente do município de Cururupu, também nos municípios de Serrano do Maranhão, Bacuri e Apicum-Açu, o seu ritmo cadenciado é envolvente e agradável, alimentando uma tradição que já dura mais de um século, cuja história afirma que surgiu na África, chegando ao Brasil a bordo dos navios que traziam negros para serem escravizados.

Na atualidade, o Bumba Boi de Costa de Mão, vive o seu momento mais crítico diante do descaso das autoridades, e pela falta de incentivo com investimentos efetivos; pela mídia, por falta de oportunidade ou de interesse em mostrar esta manifestação importante da arte popular; e dos mais jovens que buscam outros cordões de bumba boi que lhes dão maior visibilidade.

Mas, nem tudo está perdido, ainda existem folcloristas abnegados que continuam lutando para a “brincadeira” não sucumbir. O bumba Boi de Costa de Mão Brilho da Sociedade é um dos grupos resistentes. 

Apesar de todas as dificuldades, este grupo, que nasceu em Cururupu e se apresenta também em São Luís, já conta 76 anos de existência, sediando-se em Cururupu e na capital, na Vila Passos; era há muitas décadas comandado pelo folclorista “Seu” Eliézer, que reunia forças e fazia a brincadeira acontecer.

Com o seu falecimento, o “batalhão” passou para o comando do seu filho Eliézer Martins, folclorista, conhecido percursionista e artesão, que incansavelmente cuida com muito esmero de tudo relacionado ao grupo, inclusive fabricando os instrumentos tocados pelo grupo.

Eliezinho, como é conhecido, organiza os instrumentos, orienta quanto às indumentárias dos brincantes e das tapuias (índias) e arregimenta novos brincantes, o que faz do Brilho da Sociedade um dos mais importantes grupos do seu segmento, contando com cerca de setenta brincantes do cordão e mais os percursionistas.

Há também muitas mulheres, quinze tapuias e o pessoal de apoio, ao todo vinte mulheres, que cuidam das roupas e da preparação da alimentação para o grupo. Eliézer afirma que as mulheres são a grande força de sustentação do Bumba Boi Brilho da Sociedade.

Pouco espaço

Mas, o grupo se ressente da falta de interesse do pessoal dos organismos que cuidam da Cultura neste período junino, que discriminam os grupos de menor porte, destinando-lhes menor volume de investimentos. 

Os grupos que ocupam menor espaço nos holofotes da mídia local, são os que menos recebem os incentivos. “Os grupos de Bumba Boi do sotaque Costa de Mão, são os que recebem menor aporte de ajuda, com menor oferta de apresentações”, dispara Eliézer Martins.

O Bumba Boi de Sotaque Costa de Mão é diferenciado dos demais a partir do seu ritmo cadenciado com seus pandeiros, caiuxas, cuícas, tocados, literalmente, com as costas das mãos e suas indumentárias com calças bordadas e blusas coloridas, assim como seus chapéus em forma de cone e bordados com canutilhos, miçangas e pedrarias. 

Aliado a isto o que agrada muito aos espectadores é o bailado dos seus brincantes, com uma dança diferenciada dos outros grupos do gênero bumba meu boi.

Brincantes mais antigos do Bumba Boi Brilho da Sociedade afirmam que a origem deste sotaque vem de uma região de Cururupu, onde os escravos eram castigados nas mãos pelos seus senhores. 

Desse modo, por causa dos ferimentos que ficavam na região da palma das mãos, os negros, para não deixarem de festejar São João, passaram a tocar seus instrumentos com as costas das mãos.

O Bumba Boi Brilho da Sociedade, tem como seu ponto forte sua trinca de cantadores que apresentam um repertório esmerado de toadas, composta pelos cantadores Johnny Silva, “Santinho” e Neto. 

Agora surge uma cantadora revelação, a jovem Dionilce, natural de Cururupu. Que é uma das tapuias (índias) do Brilho da Sociedade, e que está brilhando com suas toadas bem elaboradas, dentro do estilo da brincadeira.

Muitos cordões do Bumba Boi de Costa de Mão sucumbiram ,mas três grupos resistem, enfrentando as dificuldades e o descaso das autoridades da Cultura. Em atividade estão, além do Bumba Boi Brilho da Sociedade, de Eliezer Martins, os Bumba Bois de Umbelino e o de Dona Ceci. Ambos de Tajaçuaba, na zona rural de São Luís.