Plásticas no Brasil crescem sob influência do culto ao corpo nos meios de comunicação

A imagem corporal é uma construção multidimensional que representa como os indivíduos pensam, sentem e se comportam a respeito de seus atributos físicos. A imagem corporal exerce papel mediador em todas as coisas, desde a escolha de vestimentas, passando por preferências estéticas, até a habilidade de empatizar com as emoções dos outros. Pode-se dizer que a identidade humana é inseparável de seu substrato somático.

Há nas sociedades contemporâneas uma intensificação do culto ao corpo, onde os indivíduos experimentam uma crescente preocupação com a imagem e a estética.

Entendida como consumo cultural, a prática do culto ao corpo coloca-se hoje como preocupação geral, que perpassa todas as classes sociais e faixas etárias, apoiada num discurso que ora lança mão da questão estética, ora da preocupação com a saúde.

Segundo Pierre Bourdieu, sociólogo francês, a linguagem corporal é marcadora pela distinção social, que coloca o consumo alimentar, cultural e forma de apresentação – como o vestuário, higiene, cuidados com a beleza etc. – como os mais importantes modos de se distinguir dos demais indivíduos.

Nas sociedades modernas há uma crescente preocupação com o corpo, com a dieta alimentar e o consumo excessivo de cosméticos, impulsionados basicamente pelo processo de massificação das mídias a partir dos anos 1980, onde o corpo ganha mais espaço, principalmente nos meios midiáticos. Não por acaso que foi nesse período que surgiram as duas maiores revistas brasileiras voltados para o tema: “Boa Forma” (1984) e “Corpo a Corpo” (1987).

Hoje, vive-se um momento do culto exagerado ao corpo e à estética: as cirurgias plásticas triplicaram no país, observa-se um aumento dos frequentadores de academias físicas e nunca venderam tanto cosméticos e produtos para emagrecer, apesar da crise econômica. É imperativo ser bonito, musculoso, magro e saudável como resultado do grande consumo da imagem.

Impulsionados pelos meios de comunicação, os adolescentes, adultos jovens e idosos buscam uma imagem perfeita, não medindo consequências para o alcance dos seus objetivos. Tornam- se criaturas servis desse mundo de poder da imagem, e todos querem a melhor academia, a melhor roupa esportiva ou social, o perfume mais caro e importado, as grifes, o melhor carro e o melhor corpo; um corpo musculoso adquirido com o consumo de substâncias, sem gordura, com pele lisa, sem espinhas, sem estrias, sem rugas e até sem pelos. Essa é a chamada era da estética, muitas vezes com procedimentos sem nenhuma ética.

Contudo, foi o cinema de Hollywood que ajudou a criar novos padrões de aparência e beleza, difundindo novos valores da cultura de consumo e projetando imagens de estilos de vida glamorosos para o mundo inteiro.

Da mesma forma, podemos pensar em relação à televisão, que veicula imagens de corpos perfeitos através dos mais variados formatos de programas, peças publicitárias, novelas, filmes etc. Isso nos leva a pensar que a imagem da “eterna” juventude, associada ao corpo perfeito e ideal, atravessa todas as faixas etárias e classes sociais, compondo de maneiras diferentes diversos estilos de vida. Nesse sentido, as fábricas de imagens como o cinema, televisão, publicidade, revistas etc., têm contribuído para isso.

Não há duvida da urgente necessidade de resgatarmos valores. Mostrar aos jovens suas habilidades internas e promover o resgate da prudência para sensibilizá-los a manter sua saúde integral e seu potencial de crescimento e desenvolvimento físico. Orientar as pessoas que viver é muito mais que ter, consumir e adquirir bens. O importante é Ser e não Ter ou Parecer. Viver é buscar, entender e dimensionar aquilo que nos caracteriza como seres humanos. É preciso pensar, questionar e ter consciência crítica, bem como refletir. Só assim poderemos usufruir da liberdade que traduzo como consciência de limites. Livres, conduziremos nossas vidas.

O mais recente estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), principal entidade da área, publicado em agosto do ano passado, mostra que em comparação a 2016, o número de pacientes em cirurgias estéticas cresceu 25,2%.

De acordo com o cirurgião plástico Ariosto Santos, o censo bianual da SBCP estima a realização de mais de 1,7 milhões de operações no País no ano passado, sendo 60% para fins estéticos. “Diferente das pesquisas anteriores, os dados de 2018 apontam um aumento no número de pessoas entre 36 e 50 anos que realizaram cirurgias plásticas, elas respondem a 36,3% do total”, explicou Ariosto.

De 2014 a 2016 a faixa etária que mais passou por intervenções cirúrgicas, estéticos ou reparadores, foi entre 19 e 35 anos. Entretanto, no ano passado, este grupo representou 34,7%. A pesquisa revela ainda que o percentual de procedimentos estéticos entre os idosos passou de 5,4% (em 2016) para 6,6% (em 2018).

Ainda conforme o cirurgião, a tendência é aumentar devido a um comportamento cultural dos mais velhos em buscar ter uma aparência mais jovial. “Por exemplo, a face é uma das áreas do corpo em que mais se deseja realizar modificações, principalmente a partir dos 45 e 50 anos, quando os sinais de envelhecimento, as mudanças hormonais, perda de elasticidade e espessura da pele, efeitos de anos de exposição excessiva à luz solar, entre outros fatores, começam a incomodar as pessoas”, concluiu Ariosto Santos.

Das intervenções com fins estéticos mais procuradas no país estão o aumento de mama, com quase 19%, a lipoaspiração com mais de 16%, a dermolipectomia abdominal (retirada de excesso de pele e gordura) com cerca de 16%, a redução de mama com quase 10%, blefaroplastia (eliminação dos sinais de envelhecimento das pálpebras) com cerca de 9%, a rinoplastia com mais de 4% e o lifting facial com aproximadamente 3%.

Outro dado que chama atenção na pesquisa da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica é que a região Sudeste é a que mais realiza processos cirúrgicos no país, representando mais de 51% do volume total.

 


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