Com a maioria dos políticos citados em caso de corrupção, por que você precisa acreditar na política

Poucas profissões estão tão desmoralizadas quanto a dos políticos no Brasil. Há bastante razão para o descrédito. Afinal, dia sim – e outro também – notícias dão conta de que boa parte da classe política está envolvida em escândalos de corrupção. Para não me estender muito (não haveria espaço para tantos exemplos), basta dizer que basicamente em todos os partidos político existe um de seus membros citados e / ou investigados em caso de corrupção. Não sobra um, diria o incauto. Infelizmente, não estará muito longe da verdade.

Mas, acredite, não há solução fora da política e sem os políticos. Não adianta dizer que são todos corruptos. Não adianta protestar e não votar. Não adianta encher o peito e afirmar que não gosta de política. Esse desinteresse só ajuda os maus políticos. Essa apatia apenas os alimenta e lhes dá poder. Ao rejeitá-los, os fortalecemos. Ao ignorá-los, somos coniventes com seus atos. Pior: o desalento com políticos afasta os jovens da política. Muitas pessoas sonhadoras que gostariam de mudar a sociedade desistem por conta do sistema corrupto. Quantos homens públicos de bem optaram por seguir outras trajetórias?

Com base no título deste artigo, o qual nos remete a refletir sobre a crença na política, podemos assegurar que certamente é possível acreditar na política e seguramente ainda vale a pena acreditar nela. Se assumirmos que política é fazer escolhas, e que uma vida plena para qualquer um de nós depende das consequências das escolhas que fazemos, seja na escolha de uma “roupa boa”, seja na escolha de um “candidato bom”, então certamente vale a pena.

Em 1919, o economista e sociólogo alemão Max Weber proferiu a conferência “A política como vocação” para estudantes da Universidade de Munique. Nela, ele apresentou uma definição do Estado que se tornou referência para o pensamento ocidental e analisou as qualidades para alguém ser um político por vocação. Segundo ele, são três: (1) a paixão movida por uma conduta responsável em torno de ideais e utopias; (2) o senso de responsabilidade; e o (3) senso de proporção, para distanciar-se dos problemas e analisá-los com gravidade e sobriedade. Onde estão os homens públicos que se encaixam nessa definição? No Congresso Nacional, há poucos que poderiam reivindicar tais atributos. A maioria se esconde debaixo do foro privilegiado e das negociatas feitas às sombras do interesse público.

Em nossa sociedade democrática, em que os cidadãos têm o poder de escolher seus governantes e seus representantes, existem candidatos bons, interessados no bem-estar das pessoas e no progresso de nossa cidade, estado e país. Basta observarmos as campanhas eleitorais para perceber que a turma de candidatos renova de tempos em tempos, e aparecem pessoas que ainda não se queimaram com a opinião pública, que podem ser escolhidas como nossos representantes. Além disso, o poder que o cidadão passou a ter de fiscalizar as atividades dos servidores da esfera pública vem aumentando com a adoção de tecnologias para fins de transparência. Com esses recursos, o cidadão pode continuar a fazer política muito depois das eleições, e assim pode acompanhar a atuação dos eleitos, para conferir se eram mesmo “candidatos bons” ou até que ponto o serão. Basta fazer a escolha de acreditar na política.

Em 2020 teremos mais um pleito eleitoral, e seguramente as eleições municipais são as mais relevantes, afinal, é nos municípios que as pessoas residem, sem falar no fato de estarem mais próximos dos eleitos e desta forma poder efetivamente fiscalizar suas ações. Em Cururupu vários nomes começam a aparecer, alguns inclusive se dizendo renovação, outros se apresentam como verdadeiros salvadores da “pátria”, no entanto é necessário tentar conhecer a vida e a história de cada um, do contrário, estaremos fazendo a escolha errada, e depois pode ser tarde demais para correção.

Um lado positivo em Cururupu é que não tem muito espaço pra erros, afinal, parte dos que se apresentam atualmente são velhos conhecidos, em sua maioria já experimentados e que não eram certo, desta forma repetir o erro é no mínimo um desatento, afinal, estamos em momento de evolução, e não de regressão.

Em 2020 teremos uma chance única de revigorar a política e de renovar os quadros e as lideranças. Para isso, é preciso acreditar na política como uma força transformadora capaz de mudar a sociedade. Exercer a cidadania não se resume a depositar o voto na urna. É preciso fazer política todo dia, toda hora, todo minuto, a cada segundo. Na sua casa, no seu bairro, na escola, em qualquer lugar. Só assim, começaremos a construir a consciência de que o espaço público é de todos. Hoje, o senso comum leva a crer que é de ninguém. Só assim deixaremos de ser analfabetos políticos, como definiu o dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht, que descreveu com precisão cirúrgica as consequências da alienação política. Repito seus versos: “Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e o lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

Estive recentemente em minha querida Cururupu e pude perceber as movimentações que se avizinham, pude também observar os conchavos que é uma espécie de retórica da velha política em nosso país, ao passo que também pude acompanhar pessoas comprometidas e que pensam a política como um bem está comum, ou seja, de acesso a todos, e de alguma forma isso me fez acreditar que ainda é possível confiar na política, porém não perder de vista as consequências de nossas escolhas, não basta fazer política nas véspera das eleições, é necessário que essa prática seja cotidiana. Pude também perceber uma cidade agonizando nos seus velhos e contínuos problemas, a saber: falta de infraestrutura, saneamento, emprego, lazer entre outras centenas de coisas que não teremos espaços para colocar, todavia, a pior delas que eu pude perceber é a decepção no olhar de cada pessoa, especialmente naqueles que acreditaram na política como forma de transformação e infelizmente o que estão tendo como resposta é uma continuação das velhas práticas, em alguns pontos a percepção é que o momento é até pior do fora em outrora.

Por fim, temos que ter em mente e na prática que os homens públicos não andam merecendo a nossa confiança. Mas, acredite, não há solução fora da política e sem os políticos.

 

Raimundo Nonato Pereira,

Bacharel em Direito, Especialista em Docência do Ensino Superior, Pós Graduado em Sistema Prisional, Medida Socioeducativa e Direitos Humanos, Account Executive na WIKI TELECOM e Diretor Geral do PORTAL ICURURUPU.